Um dia, Seo Zé resolveu vender rapadura. Pegou um bom pedaço, enrolou num jornal e foi até a praça. Colocou o embrulho em cima de um batente e ficou esperando. O sol fez a volta na praça e Seo Zé voltou pra casa sem vender nem um pedacinho.
Mas ele não desistiu. No outro dia, colocou a dita cuja em cima do mesmo batente e lembrou de desenrolar o jornal. Agora sim, todo mundo podia ver aquela maravilha de Deus. O povo olhava, mas comprar que é bom, nada.
Seo Zé não deixou por menos. No outro dia, desenrolou o jornal e começou a gritar: rapadura, olha a rapadura! Todo mundo além de ver, ouviu. Mas comprar que é bom, nada. Seo Zé voltou pra casa junto com o sol. E com a rapadura também.
No outro dia, além de mostrar e gritar que tinha rapadura, Seo Zé chamava o povo pra cheirar o doce, o que atraiu muita gente e alguns vira-latas. Mas comprar que é bom, nada.
No outro dia, fez diferente. Agora o povo é que segurava a rapadura na mão pra cheirar, sentindo a textura, a consistência. Mas comprar que é bom, nada.
Quando tudo parecia sem sentido, Seo Zé arriscou o último deles. Depois do olho, do ouvido, do nariz e das mãos, ele partiu pra boca. Ofereceu um tiquinho de rapadura a cada pessoa que passava. Uma ruma de gente experimentou. E comprar que é bom, tudo. Antes mesmo do sol deixar de fazer sombra, Seo Zé esvaziou o embrulho e encheu o bolso.
Ele descobriu, da maneira dele, que rapadura é doce, mas não é mole. Pra vender, Seo Zé teve que juntar um monte de coisa. E o que ele chama de um monte de coisa a Rocha chama de comunicação integrada.